Comunicando o incomunicável? Mulheres com endometriose, assimetrias e limites da empatia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.29397/reciis.v18i3.4208

Palavras-chave:

Dor, Comunicação, Empatia, Gênero, Endometriose

Resumo

Neste artigo, analisamos o documentário Endometriose: uma vida moldada pela dor, material que tem como objetivo “mostrar, tirar da invisibilidade e dar voz” a mulheres que vivem com intensa dor crônica causada pela doença que dá título à obra. Discutiremos, preliminarmente, as dificuldades e potencialidades do testemunho da dor física, a partir de reflexões de Scarry, Sontag e Bourke. Em seguida, abordaremos três fatores de caráter histórico-social que podem ajudar a explicar o silenciamento da experiência das pacientes: os limites da compaixão médica, especialmente relacionados a questões de gênero, classe e raça; a construção da ideia do corpo feminino como inerentemente patológico e as complexidades na relação médico-paciente em sua interseção com o gênero. Por fim, no último tópico do trabalho, trataremos dos esforços das mulheres com endometriose no sentido de tornar sua dor inteligível e modular que resposta desejam receber de seus interlocutores.

Biografia do Autor

João Freire Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Comunicação. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

 Doutorado em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Júlia dos Anjos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Comunicação. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Publicado

30-09-2024

Como Citar

Freire Filho, J., & Anjos, J. dos. (2024). Comunicando o incomunicável? Mulheres com endometriose, assimetrias e limites da empatia. Revista Eletrônica De Comunicação, Informação & Inovação Em Saúde, 18(3), 522–537. https://doi.org/10.29397/reciis.v18i3.4208

Edição

Seção

Dossiê Cuidados-em-interação: práticas, saberes e reflexividade na saúde