Dossiê Feminismos: perspectivas em comunicação e informação em saúde (v. 15, n. 2) abr.-jun 2021

07-01-2021

A saúde da mulher é concebida de maneira controversa. De forma restrita, o entendimento pelo viés da biologia e da anatomia do corpo aprisiona a mulher na função reprodutiva, limitando-se à saúde materna; de forma ampliada, dialoga com direitos humanos e cidadania, evocando questões de gênero que fomentam a luta por direitos sexuais. As recentes campanhas e conquistas pela descriminalização do aborto, como a que assistimos na Argentina e na Coreia do Sul, tinham como lema frases que articulam essas abordagens: “educação sexual para decidir”; “contraceptivos para não abortar”; “aborto legal para não morrer”.

Lutas como essa mostram que saúde e doença são processos cujos contextos específicos dão a ver sociabilidades, diferenças de classe, fatores econômicos, práticas culturais e historicidades. A dinâmica social das relações de gênero nos expõe a diferentes situações de sanidade, sofrimento, adoecimento, cura e morte.

Isso explicita a fundamental importância que o pensamento feminista tem no campo da saúde, ao introduzir nas agendas das políticas públicas questões antes restritas ao privado e à intimidade. Incorporadas e amplificadas pela mídia, essas manifestações fazem uso da comunicação como estratégia para a transformação.

Delimitando campos de atuação e produzindo materialidades, desequilíbrios e desigualdades de gênero se refletem na produção de discursos e representações postas a circular em diferentes linguagens e meios. Mídia tradicional, redes sociais e plataformas digitais adensam a produção de sentidos dissonantes: ao mesmo tempo em que trazem à tona o controverso imaginário brasileiro em relação ao corpo da mulher, colocam em pauta as particularidades dos diferentes grupos populacionais de mulheres e os contextos nos quais elas estão inseridas.

Como padrões hegemônicos de feminilidade ainda são amplamente disseminados e ratificados nos espaços midiáticos, narrativas e imagens sobre as mulheres geram sofrimento, doença e morte, o que ressalta a importância das reivindicações feministas É preciso reclamar a condição da mulher como sujeito de direito no que se refere aos ciclos biológicos (menarca, fertilidade e menopausa), à vida sexualmente ativa (métodos contraceptivos, prevenção de ISTs e reposição hormonal), aos direitos reprodutivos (métodos contraceptivos, descriminalização do aborto, violência obstétrica e fertilização assistida), à prevenção de doenças (câncer de mama e cérvico-uterino), ao bem-estar emocional e psíquico (depressão, consumo excessivo de fármacos e patologias de autoimagem) e ao acolhimento emergencial (violência doméstica e de gênero, estupro e tentativas de feminicídio).

Em sinergia com o pensamento feminista, ações e processos de comunicação são de fundamental importância para construção de redes de discussão e disseminação de informações que objetivem a conscientização cidadã. Pautados pelas lutas universais das mulheres por direitos civis, direito ao saber e à informação, direitos políticos, direitos ao trabalho e, fundamentalmente, direito ao próprio corpo, os feminismos estabelecem, a partir das singularidades das experiências interseccionais, espaços de multiplicidade e novos protagonismos, além da partilha de experiências e aspirações de transformação social.

Assim, a partir de abordagens que indaguem a relação de feminismos, comunicação e informação em saúde, este dossiê da Reciis irá privilegiar propostas de artigos originais relacionadas a resultados de pesquisas científicas que analisem os modos de viver, curar, adoecer e morrer das mulheres, considerando os seguintes eixos temáticos:

  • articulações entre comunicação, cultura e mídia nos processos de saúde e adoecimento de mulheres negras;
  • apropriação midiática pelas indígenas mulheres e circulação dos saberes tradicionais femininos sobre saúde;
  • produção de sentido sobre marcos históricos em políticas públicas para a saúde das mulheres;
  • redes e plataformas de informação sobre saúde das mulheres;
  • campanhas publicitárias e agendamento jornalístico sobre saúde das mulheres;
  • cultura do estupro e espetacularização da violência nas narrativas midiáticas;
  • estereotipização dos corpos femininos, padrões hegemônicos de beleza e suas articulações com o adoecimento e o envelhecimento;
  • idealização da maternidade e violência obstétrica nas representações audiovisuais;
  • estratégias de comunicação e informação na disseminação dos direitos reprodutivos e na luta pela descriminalização do aborto;
  • lugares de fala das mulheres e midiatização terapêutica das experiências;
  • produção de pânico moral e discurso midiático sobre sexualidades femininas;
  • discurso misógino, suas imbricações com a religião e a saúde mental das mulheres;
  • formas de comunicação e resistência engendradas por grupos de mulheres estigmatizadas;
  • linguagens e interseccionalidades na produção de conteúdo sobre a saúde das mulheres.

Editoras convidadas: Flávia Leiroz (UFRJ) e Patrícia D’Abreu (UFES).

Prazo de submissão: até 10 de março de 2021.

Publicação: maio de 2021.

Ao submeter o trabalho, por favor, use a categoria Dossiê Feminismos: perspectivas em comunicação e informação em saúde.

 

Feminisms: perspectives on health communication and information Dossier (v. 15, n. 2) Apr.-Jun. 2021

Women's health is treated in a controversial manner. A limited understanding based on the biology and anatomy of the body imprisons women based on their reproductive function and focuses on maternal health. A broader understanding involves human rights and citizenship, invoking gender issues that support the struggle for sexual rights. The recent campaigns and victories to decriminalize abortion, such as those we have observed in Argentina and South Korea, had mottoes that articulated these approaches: "sex education to support decision-making"; "contraceptives to eliminate the need for abortions"; "legal abortion to prevent women's deaths."

Struggles like these show that health and disease are processes whose specific contexts highlight sociability, class differences, economic factors, cultural practices and historicities. The social dynamics of gender relations expose us to different situations related to sanity, suffering, illness, healing and death.

This clarifies the fundamental importance of feminist thinking in healthcare by introducing issues previously restricted to private lives and intimacy into public policies. Incorporated by the media and amplified by it, these manifestations make use of communication as a strategy for transformation.

Demarcating fields of action and producing materialities, these gender imbalances and inequalities are reflected in the speeches and representations circulated in different languages and media. Traditional media, social networks and digital platforms intensify the production of dissonant meanings: while revealing controversial Brazilian concepts related to women's bodies, they address the differences in the various segments of women in the population and the contexts in which thy live.

Since hegemonic standards of femininity are still widely disseminated and ratified by the media, narratives and images of women lead to suffering, disease and death, which highlights the importance of feminist demands. We must demand the legal rights of women related to biological cycles (menarche, fertility and menopause), to a sexually active life (contraceptive methods, decriminalization of abortion and elimination of obstetric violence), to disease prevention (breast and cervical cancer), to emotional and psychiatric well-being (treatment for depression, excessive consumption of drugs and self-image pathologies) and to emergency shelter (due to domestic or gender violence, rape or attempted murder).

In synergy with feminist thinking, communication actions and processes are fundamentally important to the construction of discussion networks and the dissemination of information to increase citizen awareness. Based on women's universal fight for civil rights, the right to knowledge and information, political rights, the right to work and, fundamentally, the right to their own bodies, feminism establishes spaces for multiplicity and new types of protagonism based on the singularities of intersecting experiences, in addition to sharing experiences and aspirations for social transformation.

Thus, seeking approaches that investigate the relationship between feminism, health communication and information, this Reciis dossier accepts proposals for original articles related to the results of scientific research that analyzes the way in which women live, fall ill, heal and die, focusing on the following themes:

  • connections between communication, culture and media in healthcare for black women and the processes through which they fall ill;
  • media appropriation by indigenous women and circulation of the traditional knowledge of women about health matters;
  • aids to understanding historical milestones in public healthcare policies regarding women;
  • information networks and platforms on women's health;
  • advertising campaigns and journalistic scheduling of topics on women's health;
  • rape culture and how violence is made into a spectacle in media narratives;
  • stereotyping of female bodies, hegemonic standards of beauty and their connections to illness and aging;
  • idealization of motherhood and obstetric violence in audiovisual representations;
  • communication and information strategies for the dissemination of reproductive rights and the fight to decriminalize abortion;
  • women's speech contexts and therapeutic mediatization of experiences;
  • production of moral panic and media discourse on female sexuality;
  • misogynistic discourse, its overlap with religion, and women's mental health;
  • forms of communication and resistance engendered by groups of stigmatized women;
  • languages and intersections in the production on content on women's health.

Guest editors: Flávia Leiroz (UFRJ) and Patrícia D’Abreu (UFES).

Submission deadline: by March 10, 2021.

Publication: May 2021.

When submitting your article, please use the Dossier category Feminisms: perspectives on health communication and information.

 

 

Dossier Feminismos: perspectivas sobre la comunicación y la información en salud (v. 15, n. 2) abr.-jun. 2021

La salud de la mujer es concebida de forma controvertida. De manera restringida, la comprensión a través del sesgo de la biología y anatomía del cuerpo aprisiona a la mujer en la función reproductiva, limitándose a la salud materna. De manera general, dialoga con los derechos humanos y la ciudadanía, evocando cuestiones de género que fomentan la lucha por los derechos sexuales. Las recientes campañas y logros por la despenalización del aborto, como la que vimos en Argentina y Corea del Sur, tenían como lema frases que articulan estos enfoques: “educación sexual para decidir”; “Anticonceptivos para no abortar”; “Aborto legal para no morir”.

Luchas como esta muestran que la salud y la enfermedad son procesos cuyos contextos específicos revelan sociabilidad, diferencias de clase, factores económicos, prácticas culturales e historicidades. La dinámica social de las relaciones de género nos expone a distintas situaciones de salud, sufrimiento, enfermedad, curación y muerte.

Esto explica la importancia fundamental que tiene el pensamiento feminista en el campo de la salud, al introducir en sus agendas de las políticas públicas, temas que antes estaban restringidos a lo privado y a la intimidad. Estas manifestaciones, incorporadas y ampliadas por los medios de comunicación, utilizan la comunicación como estrategia de transformación.

Definiendo campos de acción y produciendo materialidades, desequilibrios y desigualdades de género se reflejan en la producción de discursos y representaciones que circulan en diferentes idiomas y medios. Los medios tradicionales, las redes sociales y las plataformas digitales se suman a la producción de significados disonantes: al mismo tiempo que sacan a la luz el controvertido imaginario brasileño en relación al cuerpo de la mujer, resaltan las particularidades de diferentes grupos poblacionales de mujeres y los contextos en los que están insertados.

Como los estándares hegemónicos de la feminidad aún están ampliamente difundidos y ratificados en los espacios mediáticos, las narrativas e imágenes sobre las mujeres generan sufrimiento, enfermedad y muerte, lo que resalta la importancia de las reclamaciones feministas. Es necesario reivindicar la condición de las mujeres como sujetos de derecho en lo que se refiere a los ciclos biológicos (menarquia, fertilidad y menopausia), a la vida sexualmente activa (métodos anticonceptivos, prevención de ITS y reemplazo hormonal), a los derechos reproductivos (métodos anticonceptivos, despenalización del aborto, violencia obstétrica y fertilización asistida), a la prevención de enfermedades (cáncer de mama y del cuello uterino), al bienestar emocional y psicológico (depresión, consumo excesivo de drogas y patologías de la autoimagen) y a la recepción de emergencias (violencia doméstica y de género, violación e intentos de femicidio).

En sinergia con el pensamiento feminista, las acciones y procesos de comunicación son de fundamental importancia para la construcción de redes de discusión y difusión de información que apunten a la conciencia ciudadana. A partir de las luchas universales de las mujeres por los derechos civiles, el derecho al conocimiento y la información, los derechos políticos, el derecho al trabajo y, fundamentalmente, el derecho al propio cuerpo, los feminismos establecen, a partir de las singularidades de las experiencias interseccionales, los espacios de multiplicidad y nuevos protagonismos, además de compartir experiencias y aspiraciones de transformación social.

Así, a partir de enfoques que investigan la relación entre feminismos, comunicación e información en salud, este dossier de la Reciis se centrará en propuestas de artículos originales relacionados con los resultados de las investigaciones científicas que analizan las formas de vivir, curar, enfermar y morir de las mujeres, considerando los siguientes ejes temáticos:

  • articulaciones entre comunicación, cultura y medios de comunicación en los procesos de salud y enfermedad de las mujeres negras;
  • apropiación de los medios de comunicación por parte de las mujeres indígenas y difusión de los conocimientos tradicionales femeninos sobre la salud;
  • producción de significado sobre hitos históricos en políticas públicas para la salud de la mujer;
  • redes y plataformas de información sobre salud de la mujer;
  • campañas publicitarias y programación periodística sobre la salud de la mujer;
  • cultura de la violación y espectacularización de la violencia en las narrativas de los medios de comunicación;
  • estereotipos de cuerpos femeninos, estándares hegemónicos de belleza y sus articulaciones con la enfermedad y el envejecimiento;
  • idealización de la maternidad y violencia obstétrica en representaciones audiovisuales;
  • estrategias de comunicación e información en la difusión de los derechos reproductivos y en la lucha por la despenalización del aborto;
  • lugares del habla de las mujeres y mediatización terapéutica de experiencias;
  • producción de pánico moral y discurso mediático sobre la sexualidad femenina;
  • discurso misógino, su superposición con la religión y la salud mental de las mujeres;
  • formas de comunicación y resistencia engendradas por grupos de mujeres estigmatizadas;
  • lenguajes e interseccionalidad en la producción de contenidos sobre salud de la mujer.

Editoras invitadas: Flávia Leiroz (UFRJ) y Patrícia D’Abreu (UFES).

Plazo de sumisión: hasta el 10 de marzo de 2021.

Publicación: mayo de 2021.

Al enviar el artículo, utilice la categoría Dossier Feminismos: perspectivas sobre la comunicación y la información en salud.